Une fois plus, Schlesser…

Jean-Louis Schlesser. Sabem quem é? Claro que sabem… É aquele senhor francês, já com alguma idade, que há poucos dias andou a investigar uns atalhos numa prova de Todo-Terreno ali para os lados da Turquia. Pois hoje a estória que vos vou contar passou-se precisamente com esse piloto, tão conhecido pelos seus resultados como pela suas atitudes.

Na Baja Telecel/Vodafone do ano 2000, alinhei com o José Mendes, no Seat Toledo Marathon T3. Chegados às verificações técnicas, no Jamor, fomos inspecionados precisamente à frente do Sr. Schlesser e do seu buggy. Os verificadores mandaram-nos retirar das janelas laterais uns autocolantes com umas letras de 8 centímetros que diziam “Santinho Mendes Competições”, o que até fazia todo o sentido, porque o regulamento dizia que não se podia ter nada naqueles vidros. De acordo. Tirámos imediatamente os autocolantes. Mas logo a seguir aparece o Schlesser com o seu carrinho azul e umas letras garrafais coladas nos vidros, a dizer “Schlesser Adventures”. Bonito serviço. Os comissários olham de alto a baixo e…nada! A ele, o regulamento já não mandava tirar os autocolantes!

“Saltou-me a tampa”, como se costuma dizer: à boa maneira portuguesa, foi um instante enquanto caíram o Carmo e a Trindade. Reuni com os verificadores e pedi para ser ouvido junto do director da prova e do director adjunto. Ao fim de alguma insistência lá consegui falar com ele, ainda via telemóvel. Após algum diálogo, o José Megre disse para me acalmar e para recolocar os autocolantes nos vidros. Não podia concordar! Afinal, regras são regras, não se podem quebrar para fazer o jeito ao sr. Schlesser. Fosse como fosse, o importante era concentramo-nos para a prova.

E à hora indicada para a partida, lá aparecemos, fardados a rigos, com o nosso melhor look, com fatinho de competição. E o regulamento. Fizemos um super prólogo, que nos deixou muito satisfeitos e prosseguimos calmamente até ao parque de partida para o primeiro sector selectivo. Para grande espanto meu, vejo aparecer “sua-excelência-o-antigo-piloto-de-Fórmula-1-e-campeão-do-mundo-de-TT” Jean-Louis Schlesser acompanhado do seu navegador. O copiloto de fato vestido, e ele de t-shirt e calções! Não é que me dá uma “coisinha má”? No dia anterior tinha sido o que oi, agora aparecia ali naqueles trajes? Estava calor para toda a gente, não era só para ele!

Peguei nas minhas perninhas e resolvi ir falar com ele. O que, de certa forma, o terá deixado surpreendido, principalmente com a fluência do meu francês, idioma que falo com um grande à- vontade depois de algum tempo no Mónaco. Confrontei-o com tudo aquilo, que achava da atitude dele, o que resultou num discussão de cerca de meia-hora. Ele alegava que, uns dias antes, tinha saído um aditamento do regulamento da Taça do Mundo de Todo-o-Terreno, que dizia que se podia usar trajes convencionais nestas provas. Ele dizia que tinha o documento, mas não ali naquele momento. Permaneci indiferente às suas justificações, até que ele se saiu com esta: “mas eu sou o campeão do mundo”… Eu respondi-lhe “e eu sou o Fifé, um pendura português dos mais antigos”. Enfim, não serviu de nada, porque mais uma vez o Sr. Schlesser levou a sua avante.

Terminámos o primeiro dia num excelente terceiro lugar da geral. No dia seguinte, precisamente no local de partida, uns momentos antes da nossa hora de arrancar, foi-me entregue um aditamento que dizia que, se quiséssemos, podíamos ir sem fato de competição. Respondi ao Megre e seus adjuntos que, naquela altura, só se fosse de boxers… No segundo dia fizemos uma prova com cabeça, para segurar o lugar, até porque descobrimos que o chassis estava partido e um apoio da caixa também. Apesar de tudo, chegámos ao final num óptimo 4º lugar.